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O Resgate dos Brinquedos numa Perspectiva da Etnomatemática - parte 6

Acredito que essa proposta tenha contribuído para os alunos repensar certas atitudes e brincadeiras violentas que estão tão presentes nas escolas de hoje. Tenho bem claro que seria utópico pensar que, com a realização desse projeto tudo mudaria e todos os “problemas” seriam solucionados. Porém, procurei, na realização das atividades contemplar questões que fizessem eles discutir sobre essas atitudes, mostrando, dessa forma, outras opções de brincadeiras que além de poderem ser construídas por eles, resgataria algo que também já havia sido vivenciado pelas pessoas que fazem parte da família. Acredito que essas ações teriam um enfoque especial, valorizando, assim, essa bagagem que muitas vezes não é reconhecida pela sociedade capitalista. “A cultura popular, embora seja viva e praticada, é muitas vezes ignorada, menosprezada, rejeitada, reprimida e, certamente, diminuída” (D’AMBRÓSIO, 2004, p.50).

Na execução das atividades tive bem claro que, em algumas, seria interessante aprofundar mais certos conhecimentos. Por exemplo, trabalhar questões relacionadas com os preços dos brinquedos que são vendidos no comércio, visando aí, trazer algumas reflexões sobre os cuidados que devem ter com os mesmos, sendo que estes têm um custo e que muitas vezes, caro. Poderíamos, também, ter confeccionado outros tipos de brinquedos, porém o tempo foi nosso “inimigo”. Acredito que todas as atividades planejadas eram importantes, por isso, fiz questão de executar todas, impedindo de aprofunda-las da maneira que gostaria.

Dar aula de matemática, numa perspectiva Etnomatemática, é para mim, algo, além de especial, algo que traz à tona questões importantes que estão inseridas num contexto cultural. A partir dessa prática, ficou bem claro o verdadeiro significado de uma aula de matemática. Trabalhar dentro de uma proposta dessas faz com que o professor se questione sobre várias situações, como por exemplo, a avaliação de seus alunos. Essa, ao meu ver, é muito mais que um simples teste avaliativo. Em determinadas situações o aluno tem muito mais a “ensinar” ao professor do que o professor “ensinar” ao aluno. 

A adoção de uma nova postura educacional é a busca de um novo paradigma de educação que substitua o já desgastado ensino? aprendizagem, que é baseado numa relação obsoleta de causa? efeito (D’AMBRÓSIO, 2004, p.51).

Já pensando em minha prática pedagógica voltada para a Etnomatemática, no mês de setembro, me deparo com uma emocionante reportagem (anexo 24). Ao lê-la, me imaginei professora desse menino. Quanta riqueza de idéias surgiria para serem trabalhadas a partir dessa vivência. A Matemática faz parte do dia-a-dia desse sujeito. Daí me pergunto: Qual é a Matemática que ele aprendeu na Escola? Será que sua professora de Matemática conseguiu utilizar suas vivências, seu emprego e sua cultura para aprofunda-las em sala de aula? Analisando essa reportagem é válido repensarmos sobre nossos fazeres pedagógicos. Uma vasta gama de realidade e cultura nos cercam diariamente. Basta termos consciência da importância de se trabalhar pensando em algo que realmente terá validade para a vida real de nossos educandos. 

Tendo em vista uma longa caminhada que ainda pretendo desenvolver em minha vida profissional, esta prática, foi apenas um início, um grande início, para muitas idéias que ainda surgirão e, que, cada vez mais sustentarão esse processo aqui iniciado.

Para finalizar, me permito mergulhar nas idéias de (FREIRE, 1996, p.107) que diz ,como professor, tanto lido com minha liberdade quanto com minha autoridade em exercício, mas também diretamente com a liberdade dos educandos, que devo respeitar(...) Não posso ensinar o que não sei. Mas, este, repito, não é saber de que apenas devo falar e falar com palavras que o vento leva. É saber, pelo contrário, que devo viver concretamente com os educandos.

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Bibliografia

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Como referenciar: "O Resgate dos Brinquedos numa Perspectiva da Etnomatemática" em Só Matemática. Virtuous Tecnologia da Informação, 1998-2025. Consultado em 06/07/2025 às 13:25. Disponível na Internet em https://www.somatematica.com.br/artigos/a11/p6.php

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