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A Matemática e o novo ensino médio (parte 5)

Sobre os métodos de ensino

Propostas curriculares não se limitam a listas de conteúdos, sendo essencial delinear métodos pedagógicos. O tema é amplo, tanto que poderia merecer considerações tão extensas quanto as que apresentamos até aqui. No entanto, em um trabalho como este, apenas esboço da proposta, devemos nos limitar a observações básicas sobre métodos.

Nota-se, de início, que nossa seleção de conteúdos e enfoques não se consegue garantir que se explore a capacidade de resolver problemas, que é um dos projetos fundamentais dos PCNEM. Da mesma forma,  raciocínios típicos da Matemática, como uso (e os limites desse uso) de regularidade e generalizações não estão contemplados. A razão é que somente métodos de ensino adequados podem dar conta desses fatores.

Essa observação ilustra o papel essencial dos métodos pedagógicos mostrando que deles depende uma parte dos objetivos desejados.

As DCNEM e os PCNEM contêm várias referências pedagógicas adequadas, favorecendo métodos de ensino que promovam a construção por meio da atividade dos alunos. A resolução de problemas e uma série de raciocínios específicos são inerentes a tais processos que, por isso mesmo, parecem os melhores para que se atinjam os objetivos dos PCNEM, qualquer que seja a programação. Mais geralmente ainda, a autonomia do educando e a ética da identidade dependem diretamente desses  métodos. 

Conclusões

Dentro dos limites logo de início estabelecidos, reunindo tópicos tradicionais com outros novos, sugerindo, às vezes, enfoques diferentes dos habituais, delineamos uma proposta, que serviria para o núcleo nacional comum  referido pelos PCNEM e que tende para um ensino médio novo.

Os conteúdos e os enfoques escolhidos favorecem tratamento contextualizado e interdisciplinar, (por exemplo, na Matemática Financeira, em Funções etc.). Exatamente por isso, o aspecto instrumental da Matemática torna-se evidente.

Competências ligadas à representação, expressão e comunicação têm boas chances de ser exploradas (por exemplo, no item referente às "Excursões"). O raciocínio dedutivo comparece explicitamente (ao menos nas "Excursões", outra vez). Dessa maneira mais um aspecto formativo da Matemática está presente. A partir do raciocínio dedutivo, seria razoável exercitar sua expressão com rigor crescente, o que tem valor formativo geral, pois melhora habilidades relativas à língua e à comunicação.

Aceitando-se as recomendações relativas a métodos pedagógicos constantes das DCNEM e dos PCNEM, são reforçadas essas possibilidades formativas da Matemática, desenvolvendo-se a capacidade de resolver problemas, com todos os raciocínios que ela envolve, bem como a autonomia do educando.

A inclusão de temas sobre Matemática, acima explicados, dá oportunidade para que o educando perceba a Matemática como uma ciência com métodos próprios e em evolução.

Nossa sugestão leva em consideração, embora implicitamente, determinados avanços tecnológicos que modificam o ensino da Matemática. São esses avanços que nos levam a não acentuar, o que não significa eliminar, o trabalho técnico com equações, inequações, identidades (exponenciais, trigonométricas, etc.). Afinal, todas essas tarefas podem ser realizadas apertando os botões de uma calculadora TI - 92, como vêm aprendendo os alunos do ensino médio de alguns países como a Noruega.

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Finalmente, acreditamos ter atendido aos PCNEM no sentido de "superar a visão enciclopédica do currículo", que faz necessário estudar os mais diversos aspectos secundários, "tornando-se um obstáculo à verdadeira atualização do ensino".

Por outro lado, reconhecemos que nossa sugestão curricular envolve certas dificuldades. Sendo ela ainda um esboço, mas não foi possível apontar as possíveis organizações dos conteúdos em termos de ordens e articulações. Isto é essencial, porque, como os PCNEM explicam, costuma-se tradicionalmente estabelecer "um ordem tão artificial quanto arbitrária, em que pré-requisitos fechados proíbem o aprendizado de aspectos modernos antes de se completar o aprendizado clássico e em que os aspectos "aplicados" ou tecnológicos só teriam lugar após a ciência "pura" ter sido extensivamente dominada."

Outra dificuldade surge porque raramente os professores dispõem de tempo e condições materiais para estudarem e discutirem modificações curriculares como as recomendadas, o que é um obstáculo para aplicação das idéias deste texto em sala de aula. Além disso, os cursos de licenciatura ainda dão pouca atenção aos vários aspectos culturais da Matemática citados neste artigo (os conteúdos sobre Matemática,  por exemplo) e que influem decisivamente em diversos objetivos dos PCNEM. Devido a essas limitações, os professores tem dificuldades em tomar decisões relativas a programação e conteúdos, em transformar sua prática, em assumir uma autonomia necessária dentro de uma proposta que é justamente voltada para a autonomia.

Mesmo assim, resta desejar que as idéias apresentadas mereçam a atenção de professores e educadores matemáticos, para que seja possível discutí-las e, conforme o caso, aprimorá-las ou substituí-las por outras mais valiosas.

Marcelo Lellis, Mestrando - Educação Matemática - PUC São Paulo.
Luiz Márcio Imenes, Mestre - Educação Matemática - UNESP Rio Claro. 

Como referenciar: "A Matemática e o novo ensino médio" em Só Matemática. Virtuous Tecnologia da Informação, 1998-2024. Consultado em 04/05/2024 às 22:39. Disponível na Internet em https://www.somatematica.com.br/artigos/a4/p5.php

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