O ensino da matemática nos dias atuais

Qual a reação dos nossos alunos quando o assunto é matemática? Essa inquietação deixa-me cada dia mais “inconformada” em relação ao seu ensino no contexto escolar, visto que a mesma faz parte da nossa vida diária. No entanto, muitos de nossos alunos se julgam incapazes de compreender tal ciência. Será pela forma que a matéria costuma ser trabalhada na escola? Será pelo mito de "ser difícil" e de que quem a compreenda deva ser considerado “gênio”? Ou será que a culpa é do professor, que muitas vezes apenas reproduz exercícios repetidos? E quanto às universidades, que são agências formadoras desses profissionais, como estão trabalhando esta questão?

Vestimos no ensino da matemática a carapuça de que ela é completamente difícil e de que não é destinada à compreensão de todos. Enquanto professores, muitas vezes nos apropriamos desse SABER para determos o PODER. Caso parássemos para pensar qual a disciplina com maior índice de reprovação atual, a resposta certamente estaria na matemática, e no entanto esta ciência está presente em vários momentos de nossas vidas. Assim, fica claro que a forma como a matemática vem sendo trabalhada na escola não leva o aluno à construção, nem mesmo permite o aproveitamento dessa ciência em sua vida, conduzindo-o apenas ao fracasso, a frustrações e reprovações.

Já detectamos alguns problemas no ensino da matemática hoje, resta-nos agora tentar solucioná-los. Se partirmos da Educação Infantil, que é a porta de entrada da criança na escola, muitos desses problemas certamente se extinguirão, pois segundo Piaget é preciso “levar a criança a reinventar aquilo que é capaz, ao invés de se limitar a ouvir e repetir.”

A matemática na Educação Infantil inicia com a seriação, classificação, conservação, assimilação. Se a criança formular esses conceitos, certamente isso a auxiliará em seu aprendizado matemático. No entanto, de nada adianta trabalharmos com símbolos se elas ainda não formularam tais conceitos. Se a matéria se torna difícil para muitas crianças, certamente é porque ela está sendo imposta, sem qualquer consideração pela forma que aprendem ou pensam.

A criança deve ser estimulada à descoberta, todo e qualquer erro deverá ser corrigido pela própria criança, para que construa o conceito correto. Os erros jamais devem ser eliminados pelo professor, pois a ótica dele não é a mesma do aluno.

O relacionamento Professor x Aluno, o ambiente em sala de aula e a postura profissional do professor também são fatores importantes para a compreensão do ensino da matemática.

Se o professor é um profissional crítico, aberto, capaz de auxiliar o aluno nas suas descobertas matemáticas, automaticamente o aluno irá ousar mais. Porém, se o professor limitar-se a ditar normas, regras e símbolos, consequentemente o aluno ousará menos e as suas chances de errar serão maiores.

Acredito que nós, enquanto professores dessa ciência, precisamos nos aprofundar, precisamos rever os conteúdos trabalhados em sala de aula, analisar se eles vem ao encontro da nossa realidade escolar. Segundo RANGEL:

“Os conteúdos não são organizados nem selecionados levando-se em consideração a forma como a criança constrói o seu pensamento, isto é, a sua maneira pré-lógica de pensar a realidade. Assim, o conteúdo a ser ensinado é tomado como absoluto e o ensino se dá como um fim em si mesmo: não se respeitam nem valorizam os “erros infantis”, ou seja, as manifestações da criança em como está concebendo, naquele momento, a realidade na sua maneira de pensar. Dessa forma fazemos com que a criança não se sinta bem no ambiente escolar, dificultando cada vez mais o processo de ensino e aprendizagem".

Como trabalhar com todas essas diferenças se o profissional não se sente preparado para toda essa realidade? Ao se tratar das agências formadoras desses profissionais, precisamos começar automaticamente pelo magistério (modalidade normal), pois certamente são esses profissionais que irão trabalhar a base matemática nas séries iniciais. Muitas vezes, os que procuram o curso de magistério pensam que a matemática não será mais “exigida”, segundo Danyluk:

"A maioria desses futuros professores confessava não saber ensinar matemática e não gostar dessa ciência. Afirmavam que haviam escolhido o curso de magistério por acharem que, em tal curso, “não teriam muito de matemática”. Eles mostravam não gostar de matemática e achavam-se incapazes de entendê-la. Esses futuros professores consideravam que quem "sabia" matemática era um gênio."

A história se repete nos cursos de pedagogia e, consequentemente, os problemas com relação ao ensino da matemática agravam-se cada vez mais. Em primeiro lugar, para mudarmos essa concepção precisamos quebrar algumas barreiras, tabus que trazemos conosco em relação a matemática e conhecê-la melhor, pois ninguém gosta do que não conhece.

Professora: Vera Eunice Ortiz Pires